Paris, MG

Ok, quem tem um pouco mais de idade vai pescar o trocadilho feito com o clássico Paris, Texas. A produção de 1984, dirigida por Wim Wenders, trilha sonora de Ry Cooder e fotografia de Robby Muller, tem a grande Nastassja Kinski como protagonista. A questão aqui é outra, fugindo ao denso drama existencial da película. Aliás, questões...


De um lado, uma hecatombe ambiental, que a cada dia se tem menos divulgação pela grande mídia, excetuando-se, talvez as redes sociais e alguns portais de notícias. A cada dia, avança a lama tóxica rica em metais pesados, arrasando a vida do Rio Doce. A reedição da Operação Piracema, a qual pudemos dar nossa colaboração em São Leopoldo, terá uma reedição revista e bem ampliada, com a verdadeira arca de Noé que está se desenhando para tentar poupar um pouco da combalida biodiversidade da região. Água é artigo de luxo. Para deboche, a Vale, empresa implicada no crime manda para uma das cidades que depende do Rio, envia água com alto teor de querosene para os combalidos valadarenses... Em cenas que lembram filmes de cunho apocalíptico como Mad Max, cada vez que a água chega por lá ocorre mobilização de efetivo policial, para evitar novas tragédias. Diria Gil, o inferno é aqui...


Em meio a lama, destroços, dor e medo, segue a agonia do Rio Doce. De doce, só o nome do pobre curso aquático, cuja morte foi decretada pelo descaso das mineradoras, pelo silêncio cúmplice de quem deveria ter fiscalizado de perto, pelo “abafa” midiático. Para complicar, uma das barragens rompidas estava com a Licença Ambiental vencida desde 2013...descaso com a lei, afinal, no ver dos empresários, é só “uma formalidade”, um “papel do órgão de meio ambiente”... Choro de sangue num cálice sem vida, licença poética às palavras de Gerson Pont.


E Paris. Um jogo de futebol que tinha tudo para ser um espetáculo, duas potências em campo. Um grande show no Bataclan. De repente, bombas, tiros, granadas e loucura do Estado Islâmico. O bacaninha é que, segundo revelações feitas pelo site Wikileaks, o governo norte-americano armou grupos como o ISIS. Ou seja, para detonar com Bashar Al-Assad, governante sírio, os EUA também trabalharam para armar os opositores ao governo sírio, e isso causaria um problema maior na região: a criação do atual Estado Islâmico. Parece que eles gostam de criar monstros incontroláveis, na área ambiental fizeram coisas parecidas. E novamente, a França é palco de uma cena de irracionalidade explícita. Não há nada que justifique o banho de sangue. Definitivamente, nada.


Entre a lama mineira e os tiros de radicais enlouquecidos, a dor da gente que (nem sempre) sai no jornal. As lágrimas da apresentadora global por Paris não caíram sobre a lama do conglomerado minerador. O peixe faltará na mesa do ribeirinho. Os urubus substituem as garças no Rio Doce. Cada dia, avança a lama que mata o rio. E Paris...alvo da loucura do monstro de Frankenstein criado pela “diplomacia” dos grandes países, voltando a raiva contra gente que nada tinha a ver, dando voz a radicais de todos os feitios. E todos perdemos. E todos sentimos a dor, nas ribanceiras de Minas e nas calçadas gotejadas de sangue em Paris...

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