chutando a História

Deu na Zero a seguinte frase:

"Ninguém pode achar que o poder público pode tudo. Agora vem esse bando de imigrantes e a prefeitura tem de dar trabalho e comida para todo mudo? Não é assim!"

À primeira vista, poderia ter sido proferida por Bolsonaro, Caiado, Ônix Lorenzoni ou outro direitoso desse tipo. Como diria Sophia, "só que não". Foi dita por Alceu Barbosa Velho, prefeito de Caxias do Sul.

Peraí. Bando de imigrantes....onde mesmo?

Segundo a wiki, Caxias do Sul já foi conhecida como Campo dos Bugres, Colônia de Caxias  e Santa Tereza de Caxias. A bela cidade foi erguida onde o Planalto de Vacaria começa a se fragmentar em vários vales, sulcados por pequenos cursos de água, com o resultado de ser uma região bastante acidentada na sua parte sul. A área era habitada por indígenas caigangues, desde sabe-se lá quando. Caçados pelos colonos e posseiros violentamente, em especial por "bugreiros", os donos da terra foram de lá banidos. Assim, no final do século XIX, o governo imperial decidiu colonizar a região com uma população branca europeia. Dessa forma, milhares de italianos do Vêneto subiram a serra gaúcha. Ali estabeleceram a simpática e próspera cidade, com uma economia baseada inicialmente na exploração de produtos agropecuários, com destaque para a vitivinicultura. Ao mesmo tempo, as raízes rurais e étnicas da comunidade começaram a perder importância relativa no panorama econômico e cultural, à medida que a industrialização e a urbanização avançavam, formava-se uma elite urbana e a cidade se abria para uma maior integração com o resto do Brasil. Hoje a região é importante polo metalúrgico também, embora ainda haja um forte vínculo com as tradições vinícolas.

Então...voltando ao sr. prefeito. Ele vem falar no "bando de imigrantes" que tem que ganhar trabalho e comida. Numa cidade feita por e para imigrantes, desalojando os indígenas. Numa região feita por sangue de gente que veio de uma Europa sem glamour, gente faminta, doente, sem esperança no Velho Mundo, vendo na Mérica, como diriam em vêneto, a terra da fartura.

Os africanos e árabes são os migrantes por excelência de nosso século XXI. Assim, da mesma forma que italianos, alemães, poloneses e outros europeus o foram no século XIX, mais tarde com orientais do Japão engrossando essas fileiras de gente que passou a chamar o Novo Mundo de lar. Gente faminta, apavorada pela guerra, pela intolerância, que vê a saída naquele país grandão do outro lado do oceano. A terra da fartura dos imigrantes italianos, a mesma para ganenses, senegalenses, sírios.

Há uma música, gravada pelo grupo Raíces de América, chamada "Fruto do Suor". Ela fala justamente da intolerância aos imigrantes, lembrando que "cada pedra, cada rua tem um toque de imigrante", que "sustentaram com seus ombros um país que não tem dono". Eis o link. Ouçam, e, sem a menor vergonha, derramem aquela lagriminha de canto de olho. E pensem na imbecilidade dita pelo senhor mandatário, que perdeu uma ótima chance de ficar quieto, numa cidade feita sobre ombros imigrantes.


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