tia Denise, tio Zolair

A manhã enevoada da sexta-feira me trouxe uma dessas tijoladas de vida. Durante a infância, me lembro dos amigos e amigas de minha mãe. Eram como tios e tias. Seus filhos e filhas, quase primos, por vezes mais próximos que os de sangue. Eram comuns os jantares, almoços, até mesmo de um retiro desse pessoal eu me recordo. Muito do que sou devo a essas tias e tios.

Uma delas era a tia Denise Flores. Enfermeira, sua mãe era prima e quase homônima de minha avó: dona Nice e a vó Eunice eram primas. Seu pai era o prof. João do Prado Flores, que dá nome ao pavilhão do Colégio Americano, onde ela estudou e onde o professor foi diretor até 1985. O irmão de tia Denise, dindo João Carlos, o dindo Joca, era meu padrinho de batismo, e um grande amigo de minha mãe e tia. Tia Denise teve dois filhos, Leonardo e Glauco, além de ser avó de Lucas e de Domenico, que está por vir agora... 

Como se não bastassem as tantas outras porradas que o destino te dá, outro gancho de direita com força descomunal te atinge o queixo, na tarde fria de domingo. Outro tio do coração. Tio Zolair, o tio Zola, amigão da minha mãe, um cara que admirava pra caramba.

Tio Zola militou na ACM desde 1967. Em 2008, atingiu o sonho de ser o Secretário Geral na instituição, vindo a se aposentar em 2012. Um dos caras mais decentes que já conheci, entendia de tudo um muito em sua imensa sabedoria. Deixa tia Antonieta, Louise, Marília e Renata, seus netos e uma legião de amigos...

Um momento bonito dele foi quando o parceiro, compadre e amigo João Paulo Aço, dentro de seu projeto de pesquisa sobre as raízes do Metodismo no RS, chamou alguns e algumas lideranças da juventude metodista em vários tempos. Zolair foi falar pelos jovens dos anos 1955-1968, escudado pela minha mãe na plateia. Lembro das palavras dele, do seu testemunho. Foi ele que me explicou, quando tinha dez anos, quem era o tal Che Guevara que ninguém queria falar na escola, por ser, em plenos anos de chumbo, um assunto tabu. Foi ele quem ajudou a dar salvo-conduto a Domingos, que se refugiara com vó Nice. Foi quem me ensinou cidadania.

Tio, tia, fiquem com Deus...agora, vocês são estrelinhas!

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