...o apreço não tem preço....valeu, Ruy!

Num tempo sem delicadezas na música e na vida como um todo, perdemos ontem, de tarde, o Ruy Alexandre Faria, com 80 anos. Pneumonia 7x1. Cantor, compositor, produtor, advogado... sim, ele foi formado pela UFF, e, depois de 43 anos de formado, conseguiu em 2007 emitir seu registro como advogado pela Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, atuando em um conceituado escritório de advocacia.

Ruy nasceu em dia 31 de Julho de 1937, em Cambuci, no estado do Rio de Janeiro. Filho da dona Enedina Alexandre Faria, que tocava piano, e de Octávio Faria, segundo pistom de uma banda, iniciou suas atividades musicais como muitos de sua geração. Foi crooner do “Boêmios do Ritmo”, um conjunto de baile de Santo Antônio de Pádua (RJ). Em Niterói, com Gerardo e Gilberto Peruzinho, formou o Trio Alvorada, cover do grupo de boleros Trio Irakitan, bastante conhecido na época. Trabalhou de escriturário da antiga agência do Instituto de Assistência e Previdência Social - IAPS, já graduado em Direito. Atuou como músico, cantor e ator no Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), ao lado de Carlos Vereza e Oduvaldo Viana Filho, entre outros grandes nomes da dramaturgia brasileira.

Em 1964, integrou o Conjunto do CPC ao lado de outros frequentadores da UFF. Esse foi o embrião do que viria a ser o MPB-4. Em 1965, por força da "redentora" de 64, acabou profissionalizando. Foi um dos principais grupos musicais da MPB, primeira voz, do grupo lendário, integrado por Magro (segunda voz, teclado e arranjos, aliás ótimos), Miltinho (quarta voz, violão e centro harmônico do grupo) e Aquiles (terceira voz e baita cronista) e fez parte do MPB-4 até o ano de 2004, quando optou por deixar o grupo, por motivos que ele mesmo expôs em sua página na internet (cá pra nós, não é hora de cutucar esse capítulo).

Os caras ficaram famosos pelas gravações e apresentações com e de Chico Buarque, nos anos 70 em especial. Até hoje a linda versão de "Você vai me seguir", de Chico e outro Ruy, o Guerra, me emociona, com aquele vocal apurado, na medida, desses carinhas. Como compositor, Ruyzinho inscreveu "Mulher Maio", no festival da Globo daquele ano A canção foi gravada pelo MPB-4.

Paralelamente ao seu trabalho com o MPB-4, Ruy gravou, com produção e direção próprias, o álbum solo “Amigo é pra essas coisas”, remasterizado e relançado em CD pela gravadora Velas. Fez shows individuais em várias cidades cantando músicas do disco. Atuou como diretor artístico e produtor musical de um disco de Roberto Nascimento e do LP “Pronta pra consumo”, de Cynara, do Quarteto em Cy. Aliás, foi casado com ela, e teve três filhos: João, Irene e Francisco. Chico e João Faria são músicos, e dos bons. João participou como baixista em vários shows e gravações do MPB-4, e Chico tem um excelente trabalho autoral. A amizade com Cynara era grande, a ponto de residir no mesmo edifício e encampar, recentemente, um projeto de um grupo vocal, o CYB4, com ela, a irmã Cyva e o filho Chico.

Ruy foi responsável por assinar inúmeros roteiros para espetáculos do MPB-4. Atuou também como diretor artístico do CD “Melhores momentos”, gravado ao vivo pelo MPB-4 no Teatro Rival, participou de projetos como roteirista e diretor geral de shows. O carinha era fera!

Ao deixar o MPB-4, Ruy fez shows em dupla com o compositor Carlinhos Vergueiro. Em 2005, lançaram juntos o CD “Dupla brasileira – Só pra chatear”, reverenciando duplas que marcaram o cenário da música popular brasileira. Em 2008, Ruy adaptou e dirigiu o espetáculo musical “Calabar”, de Chico Buarque e Rui Guerra, no Teatro Niemeyer, Niterói.

Ruy era daquela geração de cantores que se lançaram nos palcos da vida como crooners. Os guris de Niterói formaram o quarteto inspirados nos Cariocas, vocal de referência da bossa nova, e na cena musical da época. Em suas vozes, gente do calibre de Milton Nascimento, Chico Buarque, Gonzaguinha, João Bosco, Tom Jobim e trocentos outros grandes nomes da MPB tiveram suas composições interpretadas com maestria.

Tenho orgulho de ter Ruy Faria entre as pessoas do meu Facebook. Algumas vezes, tive chance de conversar com ele pelo Messenger da rede social, mostrar nosso trabalho, tietar um pouco, essas coisas cotidianas de rede. Infelizmente, por decorrência de uma pneumonia, ele foi cantar com o Magro no Céu. Desde dezembro estava internado. E foram, cantar e encantar o lado de lá.

Ruyzinho, muito obrigado por premiar nossos ouvidos e corações com tua voz, teu excelente humor, teu dinamismo. Obrigado, mestre! O apreço não tem preço!

Comentários

  1. Meu filho querido, a vida "é trem bala..." mas, se somos todos passageiros, a vantagem do artista é que ele vai, mas a sua arte fica. "Trocando em Miúdos", muitos músicos (e mesmo compositores anônimos), nos deixaram boas obras. Mas poucos "passaram o samba pro papel", com a arte e a ginga com que Ruy "faria".

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    1. Oi, pai! O Ruy não teve assim um balaio gigantesco de composições dele próprio, como outros. No entanto, ele que imprimiu um padrão de qualidade na voz (primeira voz) do MPB-4, e, por tabela, a todos os vocais brasileiros que vieram depois, e aí tome Boca Livre, Céu da Boca, Canto Livre (aqui no sul), etc. Os grupos anteriores, como os Cariocas, tinham uma outra estética de vozes, que veio a ser modificado com o trabalho dos quatro guris de Niterói.
      Se o também falecido Magro criou o padrão de arranjos único do grupo vocal, Ruyzinho deu sua voz a esses arranjos, na condição de primeira voz, depois substituído pelo Dalmo, sobrinho de um tal de Cauby Peixoto, na mesma posição dentro do grupo.
      De qualquer forma, fará falta...
      Beijo, pai!

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